TEXTOS
O incrível acordo paulista
21 de Junho de 2012
Convém prestar atenção nas eleições deste ano na maior cidade do país.
Na tentativa de abater o PSDB da liderança que ocupa na prefeitura e no governo do Estado de São Paulo, o ex-presidente Lula escolheu um nome novo para disputar a eleição municipal, em outubro: Fernando Haddad, ex-ministro da Educação em dois governos.
Preteriu a senadora Martha Suplicy, uma liderança petista que chegou à prefeitura paulista no ano 2000 e disputou várias eleições. Haddad nunca foi candidato a nada, sequer a vereador.
Lula quer fazer de seu discípulo um novo fenômeno eleitoral, a exemplo do que obteve com Dilma Roussef como sua sucessora na presidência da República.
A estratégia de Lula pode dar certo.
Haddad subiu de 3% para 8% nas intenções de voto do eleitorado paulista depois que apareceu ao lado do ex-presidente num programa de TV com o apresentador Ratinho.
Mas há problemas pelo caminho.
Martha Suplicy, que também já foi ministra do Turismo durante o governo Lula, afastou-se da campanha e deixou clara sua inconformidade com a escolha do PT.
E isso é uma perda inegável.
Outro problema é resultado do incrível acordo feito pelo ex-presidente para que o PP paulista de Paulo Maluf dê seu apoio a Fernando Haddad e, com isso, ampliar o tempo de propaganda eleitoral no horário gratuito.
O ex-abominado Maluf, uma das figuras mais tripudiadas da República, concordou com a proposta do PT de apoiar Haddad em troca de um cargo federal. Exigiu bem mais. Vai indicar companheiros para o secretariado de Haddad, caso ele vença a eleição. E fez uma exigência humilhante: Lula teria que ir à sua casa para formalizar o acordo, com direito a fotografia. Cada um chamou o outro de ''companheiro''. E estamos entendidos.
Para finalizar, Maluf ofereceu um prato bem brasileiro à comitiva do candidato petista. Lula achou demais comer uma feijoada. Retirou-se de cena antes do capítulo final.
O ex-governador de São Paulo fez uma declaração ufanista, disse que fez o acordo ''por amor a São Paulo''. E acrescentou: ''Não tem mais, no mundo, esquerda e direita''.
Confesso que nunca imaginei contemplar um dia a cena à mesa da casa de Maluf no Jardim Europa. Ele ao lado de Rui Falcão, o presidente nacional do PT e outros convidados, entre eles Haddad.
O problema é que Luiza Erundina, do PSB, reagiu. Anunciada como a solução para resolver o problema da falta de apoio de Martha Suplicy, Erundina renunciou à candidatura a vice-prefeito de Haddad. Ela não gosta desse tipo de ''feijoada à brasileira''.
Mas, convenhamos: se, apesar de todos esses percalços, Lula emplacar Fernando Haddad em São Paulo nessas eleições de outubro, será uma fantástica conquista, demonstração de uma liderança carismática capaz de levar por roldão convicções históricas de esquerda e direita.
Lula e Maluf amalgamados?
Na política brasileira tudo é possível.
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